sábado, 22 de novembro de 2008


Ao Mestre com carinho...

Cláudio Seto nos deixou esta semana. Tive o prazer enorme de trabalhar com o Mestre dos quadrinhos em 1987 nos Estúdios da FAMA Com. Discípulo de Ozamu Tezuka ,trouxe para o Brasil o estilo Mangá. Apesar de não me transformar num desenhista do estilo,aprendo muito com o Mestre e sofri muita influências de seu modo de esparramar as linhas sobre o papel.
Vai,Mestre, que a eternidade lhe seja seu legado.

Obrigado.

terça-feira, 12 de agosto de 2008


Soneto de Fidelidade


De tudo ao meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meu pensamento.


Quero vivê-lo em cada vão momento

E em seu louvor hei de espalhar meu canto

E rir meu riso e derramar meu pranto

Ao seu pesar ou seu contentamento


E assim, quando mais tarde me procure

Quem sabe a morte, angústia de quem vive

Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):


Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure.

(Até um dia meu anjo)

quinta-feira, 24 de julho de 2008


Palavras de molho
Pus de molho as letras
Uma mão cheia delas
Vários abecedários
E muitas salteadasVogais, bastantes.
Pu-las a refrescar em água friaUns cubos de gelo derretidos antes
Três graus bem medidosEstão a demolhar como o fiel amigo
Mas são outras que as do excesso salino
As razõesFicam-se elas por coisas da almaIndefinições
Demolho-as uns tantos dias
Mudo a águaAguardo que se entrelacem
Pês com ós, és e emes agarrados a ás
Tantas formas que nem sei imaginar
Se o soubera nem precisava demolhar
As letrasSoltariam sua presença
Em presençaEm contados, em histórias, em narrar
AssimFicam ali, já disse
Mas temo que seja demais deixá-las a medrar
Um dia ou maisTemo que rebentem em raízes
Deitem folhas, flores
Que saiam da água por aí em fila,Aos grupos
Palavras dependuradas em árvores
Um susto que eu nem saberia
Nem pela cabeça passariaO que elas iam por aí contar
Mais vale que as refresque um pouco
O tempo apenas de que venham
Como aos ovosAcima as que, eventualmente
Estejam chocasE se forem todasPois se forem
Nunca mais as usoNunca mais escrevo uma linha
Por enquanto, estão ali fresquinhas
Maria de Fátima
Texto vencedor da MA McManoel's

Sopa

Pôs na panela, a ferver, um bom pedaço de músculo. Com amor, minha filha, a comida quer que se a cozinhe com amor. As palavras da avó, sempre em seus ouvidos. Juntou, com amor, batatas, mandioquinhas e cenouras, uma cebola, uma fatia grossa de paio e outra de toucinho, um bocado de salsa e, claro, um fio de azeite. Só use Português, menina, que os outros não prestam. O cheiro da sopa fervente invadia a casa e a alma. Lembranças boas, saudades da infância, do colo quente e perfumado dos avós. Os pratos esperavamna mesa, preparados: no fundo, uma fatia de pão - uma côdea bem servida – e sobre ela, um pouco de vinho tinto. Por último, a sopa fumegante.
- José, vem jantar, menino! – soava bem chamar o filho pelo mesmo nome do avô.
Uma refeição simples, numa cozinha qualquer, aquecida pelo fogão e pela proximidade. Sentia-se, ali, a representante de gerações e gerações de mulheres, felizes por terem cozido suas sopas e conduzido suas famílias. Enviou um beijinho para o ar. A avó havia de recebê-lo!

Marcia Szajnbok

Segundo lugar no McManoel's


Roda-Viva

Três amigas, três sonhos, Maria, Margarida e Marlene. Maria andava sempre bem vestida, era orgulhosa de sua beleza. Já Margarida vivia entre as flores. Sabia dizer o aroma de todas de olhos fechados. Marlene era apaixonada pelos versos e, com um livro de poesias, sempre estava distraída a caminhar pelos parques da cidade. Maria casou com um Florista, Margarida com um Poeta e Marlene com um Alfaiate. As razões do amor nem sempre são evidentes. Maria invejava Marlene, que invejava Margarida, que invejava Maria. Na roda-viva elas bailavam ao sabor do destino.
Alian Moroz
Terceiro colocado do McManoel's

O Papa-Jornais

Na minha rua, existe uma personagem singular – um comedor de jornais. Devora todos os que encontra, quer os que são abandonados nas mesas do café, quer os que o vento empurra rua fora. Uma vez por outra, até já o vi debruçado pela abertura do Papelão.
Como seria de esperar, está sempre bem informado, quer das notícias do dia, quer das de véspera, que já todos esqueceram. Por tudo isso, é motivo de falatório na rua. Estranham-lhe a bizarria – dizem.
A mulher, que salga sempre a comida, inveja-lhe a memória. O rapaz, que sonha com pescarias no tanque do fontanário, diz que ele assusta os peixes com o ruído que faz a mastigar. As primas, que plantam jacintos nos charcos da calçada, criticam-lhe a voracidade. O oriental, de cujo livro saem, por vezes, pétalas coloridas, olha-o com desconfiança.
Todo este mal-estar desapareceu, esta manhã, inesperadamente. Quando saí à rua, para comprar pevides de melão, as conversas giravam à volta do Papa-jornais. Todos asseveravam que era um bom homem e gabavam, até, a utilidade da sua preferência gastronómica, para o asseio do bairro. E lamentavam-no com lágrimas nos olhos. Parece que houve uma distribuição maciça de jornais gratuitos e ele morreu de indigestão.

Joaquim Bispo


Texto vencedor da MA para o Restaurante do Mcanoel's


sexta-feira, 18 de julho de 2008

A extraordinária popularidade da psicanálise poderá, talvez, ser explicada, em parte, pela sua ousada concepção da motivação humana, ao colocar o sexo, - objeto natural de interesse das pessoas e também sua principal fonte de felicidade -, como único e poderoso móvel do comportamento humano. O mundo civilizado, pouco antes chocado com a tese evolucionista de que o homem descendia dos chimpanzés, já não se surpreendia com a tese de que o sexo dominava o inconsciente e estava subjacente a todos os interesses humanos. A novidade foi recebida com divertido espanto e prazerosa excitação. Em que pese os detalhes picarescos de muitas narrativas clínicas, a abordagem do sexo sob um aspecto científico, em plena Era Vitoriana, representou uma sublimação (para usar um conceito da própria psicanálise) que permitiu que a sexualidade fosse, sem restrições morais, discutida em todos os ambientes, inclusive nos conventos. Essa permeabilidade subjetiva confundiu-se com profundidade científica, e a teoria foi levada a aplicação em todos os campos das relações sociais, nas artes, na educação, na religião, em análises biográficas, etc. Porém, a questão da motivação sexual foi causa de se afastarem do círculo de Freud aqueles que haviam inicialmente se entusiasmado pela psicanálise como método de análise do inconsciente, entre eles Carl Jung, Otto Rank, e Alfred Adler que decidiram por outras teses, e fundaram suas próprias correntes psicanalíticas. No seu todo, a psicanálise foi fortemente contestada por outras correntes, inclusive a da fenomenologia, a do existencialismo, e a da logoterapia de Viktor Frank

Motivação. Para explicar o comportamento Freud desenvolve a teoria da motivação sexual (sobrevivência da espécie) e do instinto de conservação (sobrevivência individual). Mas todas as suas colocações giram em torno do sexo. A força que orienta o comportamento estaria no inconsciente e era o instinto sexual.

Caricatura sugerida pela amiga Morgana. Fã de carteirinha do nosso emblemático Sigmund Freud.

sábado, 12 de julho de 2008

Era escrava da dor que cultivava, se auto-infligindo em ritos as piores provações . Bulímica,anoréxica, esquálida , tão magra que os familiares não suportavam sua figura . Vivia no quarto trancada . Restos de comida e sacos de vômito escondidos no fundo das gavetas e armários. A enfermeira contratada havia se demitido naquela manhã, o soro estava jogado no chão.Sentia um enorme prazer em exibir as marcas de gilete que marcavam sua inúmeras internações. Eram tantas que os dois braços inteiros já não bastavam. Após entupir a sonda gástrica que a alimentava, ouviu passos suaves próximos à sua cama. Um vulto diáfano envolto em véus escuros a observava. A tão ansiada visita da morte finalmente se apresentava.Apurou a visão, o rosto era familiar mas tão apagado, quase não via as feições e muito menos o que o fantasma murmurava...apesar da fraqueza, tentou enxergar alguma coisa e mais uma vez reconheceu fragmentos de um expectro débil e quase incolor. Sentiu o corpo tremer em espasmos, as articulações doíam , as vísceras ressecadas ardiam em pontadas, mal conseguia respirar...Mais uma vez a figura espectral se aproximou e desta vez uma luz muito fraca iluminou a face cadavérica. Horrorizada a menina viu seu próprio rosto, a boca muito aberta tentando emitir algum som, os dentes haviam caído , ossinhos no lugar das mãos tentavam toca-la . Ela gritou, gritou de horror diante do espelho da Morte. Seu reflexo seria o castigo e sua única companhia na longa travessia desejada. No último instante se arrependeu da existência inútil mas era tarde demais.No vale dos suicidas almas gemiam em desespero, abutres aguardavam a carniça, o ar pesado , denso, nenhum rosto amigável nem mão estendida, apenas dor e lamentos. Caminhando por estreitas vielas tropeçava em meninas e meninos jogados no chão, sem forças, derrotados, esperando, não falavam nem se moviam. Alguns estavam tão desfigurados que nem pareciam serem humanos, eram restos distorcidos, mutilados, fiapos de carne ...como ela, só tinham o vazio e a desesperança.Uma menina vinha caminhando apressada e com ela uma legião de crianças . Quando estavam próximos ela percebeu que não eram crianças e sim adultos e adolescentes descarnados numa procissão de horrores sem fim. Eles vinham busca-la , eram seu comitê de boas vindas. Reconheceu antigas amigas de hospitais, se abraçaram, rindo e chorando, entre os seus o lugar já não parecia tão inóspito. Sorriu .Estava em casa.
Texto: Giselle Sato

sábado, 5 de julho de 2008

A velhice(Olavo Bilac)

Olha estas velhas árvores, mais belas Do que as árvores moças, mais amigas, Tanto mais belas quanto mais antigas, Vencedoras da idade e das procelas... O homem, a fera e o inseto, à sombra delas Vivem, livres da fome e de fadigas: E em seus galhos abrigam-se as cantigas E os amores das aves tagarelas. Não choremos, amigo, a mocidade! Envelheçamos rindo. Envelheçamos Como as árvores fortes envelhecem, Na glória de alegria e da bondade, Agasalhando os pássaros nos ramos, Dando sombra e consolo aos que padecem!

Poema enviado pela minha amiga Vamp.



quarta-feira, 2 de julho de 2008


Não digas nada! Nem mesmo a verdade Há tanta suavidade em nada se dizer E tudo se entender - Tudo metade De sentir e de ver... Não digas nada Deixa esquecer Talvez que amanhã Em outra paisagem Digas que foi vã Toda essa viagem Até onde quis Ser quem me agrada... Mas ali fui feliz Não digas nada.
Texto de Fernando Pessoa enviado pela minha grande amiga e xará!

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Nietzsche


" Só se escolhe a dialética, quando não se tem mais nenhuma outra saída. Sabe-se que se suscita desconfiança com ela, que ela é pouco convincente. Nada é mais facilmente dissipável do que um efeito dialético:a experiência de toda e qualquer reunião na qual se conversa, o prova. Ela só serve como saída drástica nas mãos daqueles que não possuem nenhuma outra arma. É preciso que se tenha de estabelecer à força o seu direito: antes disto não se faz uso algum dela. Por isso, os judeus eram dialéticos. Como? Sócrates também o era?A ironia de Sócrates é uma expressão de revolta? De ressentimento da plebe? Ele goza enquanto oprimido de sua própria ferocidade nas estocadas do silogismo? Ele vinga-se dos nobres que fascina? À medida que se é um dialético, tem-se um instrumento impiedoso nas mãos"

terça-feira, 24 de junho de 2008


"Às vezes, sem que o espere ou deva esperá-lo, a sufocação do vulgar me toma a garganta e tenho a náusea física da voz e do gesto do chamado semelhante. A náusea física direta, sentida diretamente no estômago e na cabeça, maravilha estúpida da sensibilidade desperta... Cada indivíduo que me fala, cada cara cujos olhos me fitam, afeta-me como um insulto ou como uma porcaria. Extravaso horror de tudo. Entonteço de me sentir senti-los. E acontece, quase sempre, nestes momentos de desolação estomacal, que há um homem, uma mulher, uma criança até, que se ergue diante de mim como um representante real da banalidade que me agonia.
Texto de Fernando Pessoa , postado pela amiga Suely Sofia.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Em memória

Arrastada a moça
divulgada na praça
atadas as mãos atrás da saia
atadas as tranças em laçada
azul nos laços soltos
azul no céu.
Passavam dez das duas da tarde.
Moça de saia amarrotada
o sol queimava-lhe.
Desfizeram-lhe as tranças
soltaram-lhe as mãos.
Na parede ficou um risco encarnado.
Dez depois das duas da tarde
o sol brilhava e o céu era de azul.
Sangue de mocidade.
Sangue vermelho em céu azul.
Na praça, nunca mais caiado,o muro.
Poesia de autoria da minha amiga Maria de Fátima.
Uma lusitana com sangue derramado aos versos.

terça-feira, 17 de junho de 2008


Samuel Butler:
"A vida é a arte de tirar conclusões suficientes a partir de premissas insuficientes" "A vida é como a música. Deve ser composta de ouvido, com sensibilidade e intuição, nunca por normas rígidas" "Afinal de contas, o prazer é um critério mais seguro do que o dever e do que o direito" "O público compra opiniões do mesmo modo que compra a carne ou o leite, partindo do princípio de que custa menos fazer isso do que manter uma vaca. É verdade, mas é mais provável que o leite seja aguado" "As amizades de um homem, tal como a sua vontade, são anuladas pelo casamento - mas são anuladas da mesma maneira pelos casamentos dos seus amigos" "Uma apologia ao Diabo: é preciso lembrar que apenas ouvimos uma versão da história. Deus escreveu todos os livros"

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Paulo Leminski
I
Confira
tudo que respira
conspira
II
Tudo é vago e muito vário meu destino não tem siso, o que eu quero não tem preço ter um preço é necessário, e nada disso é preciso
III
Cinco bares,dez conhaques atravesso São Paulo dormindo dentro de um táxi.Visso de querer ser exatamente aquilo que a gente é ainda vai nos levar além
IV
O Paulo Leminski é um cachorro louco que deve ser morto a pau a pedra a fogo a pique senão é bem capaz o filho da puta de fazer chover em nosso piquenique

Paulo Leminski nasceu aos 24 de agosto de 1944 na cidade de Curitiba, Paraná. Em 1964, já em São Paulo, SP, publica poemas na revista "Invenção", porta voz da poesia concreta paulista. Casa-se, em 1968, com a poeta Alice Ruiz. Teve dois filhos: Miguel Ângelo, falecido aos 10 anos; Áurea Alice e Estrela. De 1970 a 1989, em Curitiba, trabalha como redator de publicidade. Compositor, tem suas canções gravadas por Caetano Veloso e pelo conjunto "A Cor do Som". Publica, em 1975, o romance experimental "Catatau". Traduziu, nesse período, obras de James Joyce, John Lenom, Samuel Becktett, Alfred Jarry, entre outros, colaborando, também, com o suplemento "Folhetim" do jornal "Folha de São Paulo" e com a revista "Veja". No dia 07 de junho de 1989 o poeta falece em sua cidade natal. Paulo Leminski foi um estudioso da língua e cultura japonesas e publicou em 1983 uma biografia de Bashô. Sua obra tem exercido marcante influência em todos os movimentos poéticos dos últimos 20 anos. Seu livro "Metamorfose" foi o ganhador do Prêmio Jabuti de Poesia, em 1995. Em 2001, um de seus poemas ("Sintonia para pressa e presságio") foi selecionado por Ítalo Moriconi e incluído no livro "Os Cem Melhores Poemas Brasileiros do Século", Editora Objetiva — Rio de Janeiro.

quarta-feira, 4 de junho de 2008


A imaginação é mais importante que a ciência, porque a ciência é limitada, ao passo que a imaginação abrange o mundo inteiro.
Einstein

sexta-feira, 30 de maio de 2008


O deus que não evoluiu

Ao ler hoje os jornais pela manhã, senti estar em uma daquelas datas históricas da humanidade. O Supremo Tribunal liberou as experiências com as “Células Tronco”. Não podemos dimensionar direito o efeito que esse fato vai trazer sobre a Sociedade Humana, mas em um futuro, não muito longe, temos a esperança de cura para vários males que assolam nosso corpo “sapiens” em evolução. É claro que não podemos nos deixar iluminar pelo ufanismo e esperar milagres em curto prazo, ou verdades absolutas; com curas instantâneas, como as encontradas nas páginas de muitos livros religiosos. Mas a esperança é um sentimento tão aprazível à alma, principalmente para aqueles entrevados em uma cama ou em uma cadeira de rodas, ou mais; para os que não tinham uma chance de sobrevida, que certamente não podemos deixar de esperar boas novas. A medicina poderá, doravante, trazer palavras de conforto, e muito mais do que palavras, ações.
Apesar da bancada Evangelista da Câmara tentar vetar a lei de qualquer modo, sem uma explicação plausível: Seria ela inspirada em um deus que não evoluiu? Prometem avançar contra a liberdade de vida, sob a liderança desse deus com menos de três mil anos de idade, esquecendo de que os hominídeos caminham sobre a Terra há pelo menos quatro milhões de anos. O Homem teve um prazo bem maior para evoluir, coisa não muito fácil.

Esse deus é ainda um australopithecus , perto do poder que o conhecimento humano pode produzir, quando relegado a um “Bem Maior”. Parabéns, senhores Ministros. Entrarão para a História como os profetas de uma nova Era. Esta sim, verdadeira.

Alian Moroz

quarta-feira, 28 de maio de 2008


JC Doidão em seu "Sermão da Montanha". Ao seu lado (direito de quem vai) Temos Simão Pedra, um dos discípulos mais destacados de JC Doidão.

terça-feira, 27 de maio de 2008


Uma Galinha
Clarice Lispector
Era uma galinha de domingo. Ainda viva porque não passava de nove horas da manhã.Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram, apalpando sua intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se adivinharia nela um anseio. Foi pois uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto vôo, inchar o peito e, em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço. Um instante ainda vacilou — o tempo da cozinheira dar um grito — e em breve estava no terraço do vizinho, de onde, em outro vôo desajeitado, alcançou um telhado. Lá ficou em adorno deslocado, hesitando ora num, ora noutro pé. A família foi chamada com urgência e consternada viu o almoço junto de uma chaminé. O dono da casa, lembrando-se da dupla necessidade de fazer esporadicamente algum esporte e de almoçar, vestiu radiante um calção de banho e resolveu seguir o itinerário da galinha: em pulos cautelosos alcançou o telhado onde esta, hesitante e trêmula, escolhia com urgência outro rumo. A perseguição tornou-se mais intensa. De telhado a telhado foi percorrido mais de um quarteirão da rua. Pouco afeita a uma luta mais selvagem pela vida, a galinha tinha que decidir por si mesma os caminhos a tomar, sem nenhum auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era um caçador adormecido. E por mais ínfima que fosse a presa o grito de conquista havia soado.Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria, arfava, muda, concentrada. Às vezes, na fuga, pairava ofegante num beiral de telhado e enquanto o rapaz galgava outros com dificuldade tinha tempo de se refazer por um momento. E então parecia tão livre.Estúpida, tímida e livre. Não vitoriosa como seria um galo em fuga. Que é que havia nas suas vísceras que fazia dela um ser? A galinha é um ser. É verdade que não se pode­ria contar com ela para nada. Nem ela própria contava consigo, como o galo crê na sua crista. Sua única vantagem é que havia tantas galinhas que morrendo uma surgiria no mesmo instante outra tão igual como se fora a mesma. Afinal, numa das vezes em que parou para gozar sua fuga, o rapaz alcançou-a. Entre gritos e penas, ela foi presa. Em seguida carregada em triunfo por uma asa através das telhas e pousada no chão da cozinha com certa violência. Ainda tonta, sacudiu-se um pouco, em cacarejos roucos e indecisos. Foi então que aconteceu. De pura afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida, exausta. Talvez fosse prematuro. Mas logo depois, nascida que fora para a maternidade, pare­cia uma velha mãe habituada. Sentou-se sobre o ovo e assim ficou, respirando, abotoando e desabotoando os olhos. Seu coração, tão pequeno num prato, solevava e abaixava as penas, enchendo de tepidez aquilo que nunca passaria de um ovo. Só a menina estava perto e assistiu a tudo estarrecida. Mal porém conseguiu desvencilhar-se do acontecimento, despregou-se do chão e saiu aos gritos:— Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs um ovo! ela quer o nosso bem!Todos correram de novo à cozinha e rodearam mudos a jovem parturiente. Esquentando seu filho, esta não era nem suave nem arisca, nem alegre, nem triste, não era nada, era uma galinha. O que não sugeria nenhum sentimento especial. O pai, a mãe e a filha olhavam já há algum tempo, sem propriamente um pensamento qualquer. Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha. O pai afinal decidiu-se com certa brusquidão:— Se você mandar matar esta galinha nunca mais comerei galinha na minha vida!— Eu também! jurou a menina com ardor. A mãe, cansada, deu de ombros.Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a família. A menina, de volta do colégio, jogava a pasta longe sem interromper a corrida para a cozinha. O pai de vez em quando ainda se lembrava: "E dizer que a obriguei a correr naquele estado!" A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos, menos ela, o sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos, usando suas duas capacidades: a de apatia e a do sobressalto.Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchia-se de uma pequena coragem, resquícios da grande fuga — e circulava pelo ladrilho, o corpo avançando atrás da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena cabeça a traísse: mexendo-se rápida e vibrátil, com o velho susto de sua espécie já mecanizado.Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar. Nesses momentos enchia os pulmões com o ar impuro da cozinha e, se fosse dado às fêmeas cantar, ela não cantaria mas ficaria muito mais contente. Embora nem nesses instantes a expressão de sua vazia cabeça se alterasse. Na fuga, no descanso, quando deu à luz ou bicando milho — era uma cabeça de galinha, a mesma que fora desenhada no começo dos séculos.Até que um dia mataram-na, comeram-na e passaram-se anos.

sábado, 24 de maio de 2008


O amor real, por manter as suas raízes no equilíbrio, vai se firmando dia a dia, através da convivência estreita.

O amor, nascido de uma vivência progressiva e madura, não tende a acabar, mas amplia-se, uma vez que os envolvidos passam a conhecer vícios e virtudes, manias e costumes de um e de outro.

O equilíbrio do amor promove a prática da justiça e da bondade, da cooperação e do senso de dever, da afetividade e advertência amadurecida.
Essa é a minha amiga Marcela e o namoradão, comemorando cinco anos juntos. Parabéns!

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Ninguém presta à sua geração maior serviço do que aquele que, seja pela sua arte, seja pela sua existência, lhe proporciona a dádiva de uma certeza. James Joyce

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Virgílio disse a Montaigne: "Bem que eu poderia me jogar daquela torre!" Montaigne sem desviar os olhos do líquido carmesim à sua frente, pergunta: "Que eu sei?" Virgílio avalia a pergunta e não encontrando resposta para si, diz: "Sócrates dizia que seu saber era não saber nada, outros modelarão, bem o creio, bronzes com vida e sem dureza; extrairão dos mármores seres animados; defenderão melhor as causas; medirão com o compasso o curso dos céus e anunciarão o nascer dos astros, mas eu, não creio entender algum propósito nisso tudo."Montaigne levanta a taça, o taverneiro despeja mais do denso vinho. Avista a torre onde passara o resto de seus dias e diz:"Nós podemos chegar a ser cultos com conhecimento de outros homens mas nós não podemos ser sábios com sabedoria de outros homens. Eu sei bem do que eu estou fugindo, mas não o que eu estou buscando. Sabe, meu caro amigo, nós imortais, não podemos nos atirar de torres. Não envenenamo-nos, tampouco deixamo-nos enveredar por esses caminhos duvidosos que muitos temem. Estamos longe disso meu amigo. O que o teme sofre, sofre já de seu medo."Virgílio se levanta. Cambaleando parte em direção à torre."Então vamos amigo. Veremos se o que diz é verdade. Subamos..."Depois do último gole Montaigne se levanta. Cambaleando como Virgílio segue o amigo pelos rastros tortuosos. "Espere poeta errante! Vou contigo pois nós mesmos somos a matéria de nossos livros.

"Meu amigo Samuel Peregrino. Escritor ,Músico, Poeta,..etc...etc...

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Liberdade não é fazer o que se quer, mas querer o que se faz. (Sartre)


Estou lendo A Idade Da Razão... não sei quando termino. É que ler 3 vezes a mesma página é trabalhoso.

quarta-feira, 14 de maio de 2008


"Quando uma conversa com alguma divindade misteriosa permitir bestialidade na quarta-feira e absolvição no domingo, me cobre." - Sinatra
Dez anos sem "the Voice"

quinta-feira, 8 de maio de 2008

O público não gosta de inovação porque a teme. Representa para ele uma forma de Individualismo, uma afirmação por parte do artista de que ele mesmo escolhe o seu tema e o trata como lhe convém. A Arte é Individualismo, e o Individualismo é uma força inquietante e desagregadora. Nisto reside seu grande valor, pois o que procura subverter é a monotonia do tipo, a escravidão do costumeiro, a tirania do habitual e a redução do homem ao nível da máquina. Na Arte, o público aceita o convencional por não poder alterá-lo, mas não porque o aprecie. Engole seus clássicos por inteiro, sem degustá-los. Suporta-os como ao inevitável. E já que não podem digeri-los a seu gosto, ruminam. De modo assaz estranho, ou nada estranho, segundo a visão de cada um, essa aceitação dos clássicos causa um grande mal.

Assim disse O. Wilde

Texto enviado pela amiga Suelysofia.



segunda-feira, 5 de maio de 2008

"Tenho o hábito de acreditar nas pessoas, mas de duvidar de suas crenças!"- by Angel

Essa é a Angel , uma menina simpática que conheci no Boteco.

sábado, 3 de maio de 2008

Umberto Eco, escrevre em nome da Rosa e em nome de todos os amantes da Filosofia da Arte

terça-feira, 29 de abril de 2008

A Magia de Gi...

quinta-feira, 24 de abril de 2008


O Homem boca vive só, não por devaneios da vida, mas por opção. O homem boca vive só, não por amenidades dos azares, mas por ser si para si , bastava.
O Homem boca rumina,mastiga ,volta a mastigar a comida, não para triturar, mas para castigar. O homem boca , não vê, só cheira, seu nariz é grande, para poder incomodar, por isso não têm olhos, não quer ver. O Homem boca balança sua grande barriga , não por diversão, mas para mostrar que está farto. O homem boca só usa amarelo , a cor do medo, não por ser covarde, mas por ser um vírus. As mãos são grandes , para poder apanhar a tudo que lhe interesse, e também o que não lhe importa. Por que o homem boca é mau? Ele não sabe, pois o homem boca não tem cérebro.
Texto de Francisco Guimaraes

quarta-feira, 23 de abril de 2008

A corrupção não é uma invenção brasileira, mas a impunidade é uma coisa muito nossa. (Jô Soares

Alguns não gostam de sua literatura. Eu li e aprovei. É rápida, leve e irônica.

Minha homenage ao JÔ

terça-feira, 15 de abril de 2008


Cristo em seu sacrifício esperava as piores atrocidades, por esta razão estava em paz, sereno, enlevado na fé... até que uma turba rodeou a cruz em falatório e gritos. No início permaneceu recolhido mas o grupo fazia tremenda algazarra que foi obrigado a parar suas preces. O amado mestre então reconheceu jovens que se achavam eruditos, versados e intelectuais, disputando o privilégio de escrever a história que acontecia, pedindo que julgasse o melhor dentre eles para tal feito. Cristo suspirou profundamente em sua agonia e nada respondeu. Um anjo caído e expulso que passeava por lá resolveu intervir. Irritado com a bondade do filho do Senhor, mandou uma maldição sobre os hereges ególatras:- Por toda a eternidade voltarão como escritores sofredores. Nunca conhecerão a fama e no final dos tempos criarão polêmicas em uma Comunidade Virtual na vã tentativa de escrever alguma coisa que preste. Proferindo o odioso anúncio sumiu em uma nuvem fedorenta e ardida. Não antes de assistir o desespero dos jovens escribas.
Texto de Giselle Sato

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Quer ficar de cabeça para baixo sem vazar sangue pela boca? Leia "Budapeste"
O tal de Chico Buarque é doido!!
Contos e histórias temos todos os dias ...as correntes nos libertam paradoxalmente...

quarta-feira, 9 de abril de 2008


Criado o capacete anti-stress. Com ele você só escuta palavras musicais em vez daquele xingão do motorista que te deu uma cortada. A voz da esposa parace com o canto das cotovias e o som vindo da garganta de sua sogra asemelha-se a um leve sussurrrar do vento. Você poderá se expressar à vontade pois o capacete esta´programado para traduzir suas palavras de baixo calão em uma frase calma , como exêmplo: você diz: Vai se fuder!! Mas as pessoas escutarão..: Tudo bem ,não esquenta. Não deixe de adquirir hoje mesmo essa maravilha da tecnologia virtual.

sábado, 5 de abril de 2008

Quero prestar uma homenagem ao meu irmão no dia de seu aniversário. Tudo de bom pra você mano véio, agora completou a desgraça. É paranista, bebe kaiser, torce pelo Barrrichelo e por fim ,quarentão. Seja bem-vindo à turma Arion!

terça-feira, 1 de abril de 2008



Um cético atuante...

segunda-feira, 31 de março de 2008



contra fatos não há fé...

sexta-feira, 28 de março de 2008


Ele continua fazendo seu trabalho...

quarta-feira, 26 de março de 2008


Nosso Presidente discursando para os funcionários da Itaipu, dia 17/03/08. Obviamente ele se referia à extensão territorial do Brasil. Obviamente a pergunta ficou sem respostas...

sábado, 22 de março de 2008



Eu não me aguento...

quinta-feira, 20 de março de 2008


Humanismo irritante...

terça-feira, 18 de março de 2008



nada é inegociavel...

sábado, 15 de março de 2008

Cuidado com ele...

sexta-feira, 14 de março de 2008


Os passos são meus...
o que me segue é...

Apenas sombra do que fui
...louco orfeu em busca de fé

...Aurora da alma
empregnada, molhada

...assas conclui...

Sois folha,nada mais.

Poeta em crise

quinta-feira, 13 de março de 2008

Carl, você está morrendo...
Qual seu último desejo?
– Experimentar outra marca de cerveja...

quarta-feira, 12 de março de 2008


Realmente, para a Espanha, o que há de melhor dos nossos produtos de exportação...

Manda ver JC Doidão!!

terça-feira, 11 de março de 2008


O VATICANO ANUNCIOU O AUMENTO DO NÚMERO DE PECADOS CAPITAIS.

SERÁ QUE A COISA ANDA DEVAGAR NO INFERNO???!!

segunda-feira, 10 de março de 2008


JC eniviado dos Céus...